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O Webinar nº 5 lidou com a interculturalidade na sala de aula, a partir de investigação localizada no Equador

A exposição foi comentada também pela diretora do doutorado de educação da Universidade Metropolitana de Ciência da Educação (UMCE) do Chile, Nolfa Ibáñez, que sublinhou a importância de se aprofundar na situação da educação intercultural bilingue em sua dimensão política e de desenvolvimento profissional docente.

O desafio educacional da interculturalidade. Um olhar a partir do Equador

A investigadora Dinora Hidalgo apresentou um panorama geral de educação intercultural na América Latina. Destacou que além das diferenças de conceitos que se utilizam dentro desta área, o importante é o reconhecimento e visibilidade dos diferentes grupos étnicos que vivem na região. Deste modo, acrescentou, “os sistemas educacionais têm a responsabilidade e o desafio de entender e atender as diversidades culturais e, com elas, tudo aquilo que resiste as propostas hegemônicas”.

A partir da experiência do sistema educacional equatoriano, Hidalgo especificou como este trabalha com a interculturalidade, reunindo-a em pilares institucionais como a Constituição da República do Equador e da Lei Orgânica de Educação Intercultural, para chegar ao modelo do Sistema de Educação Intercultural Bilingue (MOSEIB), que contém as diretrizes para as escolas que atendem as populações com nacionalidades ou grupos étnicos reconhecidos dentro da legislação. Estas diretrizes são aplicadas para as modalidades de Educação Infantil Familiar Comunitária, Educação Geral Básica Intercultural Bilingue e um Bacharelado Geral Unificado Intercultural Bilingue. Assim mesmo, a Secretaria de Educação Superior, Ciência, Tecnologia e Inovação, através do projeto Diálogo de Saberes, tem a missão de fortalecer e potencializar a recuperação dos saberes ancestrais em coexistência com o conhecimento científico e tecnológico, mediante a transversalização da interculturalidade e o diálogo de saberes na educação superior.

Por sua vez, a investigadora Sonia Peña, se aprofundou na compreensão dos Centros Comunitários Interculturais Bilingues (CECIB), a partir de um estudo de campo realizado com a Escola IKA, localizada no Parque Nacional Yasuní. Este estabelecimento atende estudantes da educação básica pertencentes à comunidade waorani, e conta com professores de origem kichwa que foram alocados na escola pelo Ministério da Educação, que desconhece a língua de origem de seus estudantes. O estudo envolve elementos relevantes neste contexto educacional: por exemplo, os docentes reportam uma sensação de discriminação e percepção de desrespeito por parte da comunidade, que não valida o seu perfil docente para educar seus filhos. Por sua vez, os estudantes recebem visitas externas repetidas e improvisadas em que são impostas atividades descontextualizadas, o que gera a sensação de estarem sendo observados e questionados continuamente. Estas dinâmicas têm provocado dificuldades de comunicação entre a escola e a comunidade e a escassa colaboração desta última nas atividades da escola.

Por outro lado, o estudo reconhece que o contexto de contaminação e exploração gerado pela presença da indústria petrolífera que devasta área, tem levado a comunidade a perceber a educação como uma oportunidade para acessar recursos de subsistência, manifestando o desejo de obter benefícios e recursos próprios da vida urbana. Entretanto, ao fazer o acompanhamento dos estudantes que conseguiram ingressar na universidade na capital, observa-se que enfrentam dificuldades diante das exigências acadêmicas e do trabalho conceptual, pois são inseridos em um contexto que tampouco respeita a diversidade de cosmovisões e saberes de cada povo. Conclui-se que a educação intercultural é algo que deve ser construído em um tempo e espaço comum de diálogo de saberes, para o reconhecimento mútuo.

Trabalho em sala de aula não acolhe os sentidos e significados indígenas

Após as exposições, foi dado o comentário da especialista Nolfa Ibañez, acadêmica, investigadora e diretora do doutorado de Educação da Universidade Metropolitana de Ciências da Educação (UMCE) do Chile, com ampla experiência em educação intercultural.

A acadêmica destacou a importância de gerar investigação baseada nesta matéria e a contribuição das investigadoras para a visualização do estado da educação intercultural bilingue em suas dimensões políticas e de desenvolvimento profissional docente. Fez ênfase especial aos problemas associados ao sistema oficial de avaliação educacional, “baseado em um fundamento epistemológico unívoco”. Nesta linha, assinalou a importância de avançar em novas soluções frente as avaliações padronizadas da epistemologia ocidental, que não se encarregam da interculturalidade. Em sua opinião, avançar nessa linha requer uma maior compreensão sobre a opinião dos pais e professores a respeito dos resultados da avaliação oficial aplicada aos seus estudantes, para a partir daí identificar aspectos culturais invisibilizados pelo sistema, e que em alguns casos levam a conclusões errôneas sobre os resultados de aprendizagem de estudantes e centros educacionais.

Estes comentários foram complementados a partir da investigação realizada no Chile pela equipe de investigação dirigida por Nolfa Ibáñez. Entre os resultados obtidos, destaca-se como os sentidos e os significados que as crianças indígenas trazem para a escola não são acolhidos, nem incorporados ao trabalho pedagógico na sala de aula. Assim mesmo, sua investigação sobre o Programa de Investigação de Educação Intercultural Bilingue (PEIB) do Chile tem demonstrado que não há diferenças significativas na implementação curricular que os professores  fazem em escolas com e sem o PEIB, e que por sua vez, pela forma como o sistema educacional é estruturado, os professores e educadores tradicionais mapuche desenvolvem uma prática de aula desconectada de sua própria cosmovisão. Para reverter essa situação, a equipe está inovando desde a formação docente, desenvolvendo uma Cátedra Indígena de Educação Intercultural, transversal as carreiras e faculdades da universidade, e onde a interculturalidade se apresenta em igualdade de condições e os estudantes têm acesso a diferentes modos de fazer as coisas e construir conhecimentos.

A palestra virtual foi concluída com um interessante diálogo com os participantes do encontro, entre os quais representantes de instituições da Argentina, Chile, Colômbia, Equador, França, México, Peru, Uruguai e Venezuela. Lá foram colocadas perguntas e comentários sobre os problemas vinculados ao choque do sistema oficial de avaliação educacional com os grupos étnicos considerados; também foram exemplificadas situações didáticas que consideram as diferentes formas de compreensão de cada tipo de saber, e se reconheceu o interesse por gerar um grupo de trabalho que possa elaborar recomendações de políticas educacionais que contribuam para a consideração dessas dimensões dentro do sistema oficial.

Sobre as investigadoras:

Dinora Hidalgo é docente e investigadora da Pontifícia Universidade do Equador, PUCE. Possui mestrado em Projetos Educacionais e Sociais da Universidade Central do Equador. É licenciada em Antropologia e Andragogia pela PUCE.

Sonia Peña é docente e investigadora da Pontifícia Universidade do Equador, PUCE. É doutora em Educação, tem Mestrado em Ensino Secundário e Bacharelado, Formação Profissional e Ensino de Idiomas pela Universidade de Granada.

Nolfa Ibañez é docente, investigadora e diretora do Doutorado em Educação da Universidade Metropolitana de Ciência da Educação (UMCE). É doutora em Educação da Universidade Academia de Humanismo Cristiano e do Programa Interdisciplinar de Investigações em Educação, mestrado em Educação com menção em Educação Diferencial pela UMCE.